A crise climática é uma realidade sem precedentes, impulsionada pela grande liberação de gases de efeito estufa na atmosfera por atividades antropogênicas, com destaque para a queima de combustíveis fósseis, as atividades industriais, a agropecuária e o desmatamento. O aumento desses gases, com uma contribuição significativa do dióxido de carbono e do metano, tem gerado recordes de temperaturas e eventos climáticos extremos cada vez mais frequentes, afetando toda a população mundial, sobretudo os grupos mais vulneráveis.
Em 2015, alertados por cientistas especializados em mudanças do clima que vinham estudando o assunto há décadas, líderes mundiais se comprometeram em limitar o aumento da temperatura global a menos de 2°C – com esforços para limitá-lo a 1,5°C – através do Acordo de Paris firmado durante a 21ª Conferência das Partes (COP21). Este acordo visa reduzir as emissões de dióxido de carbono e fortalecer a resposta às mudanças climáticas por meio de metas globais, contribuições nacionalmente determinadas (NDCs) específicas para cada país e financiamento dos países mais desenvolvidos. Anualmente, cúpulas internacionais (COPs) são realizadas para discutir os compromissos climáticos. Embora as metas iniciais não fossem suficientes para limitar o aquecimento global a 1,5°C, as promessas atuais ainda colocam o mundo no caminho de cerca de 2,1°C de aquecimento até 2100.
A perspectiva do momento é bastante desafiadora, mas encarar esse colapso climático de forma fatalista tende a acelerar suas consequências. Precisamos estar atentos a realidade com seus desafios e possibilidades. Diante dessa urgência, o sequestro de carbono emerge como uma ferramenta importante para mitigar os impactos das mudanças climáticas.
A captura e armazenamento de dióxido de carbono (CO2) é amplamente reconhecida pela comunidade científica como uma abordagem crucial para mitigar os efeitos do aquecimento global e enfrentar as mudanças climáticas. Para compreendê-la melhor, é importante lembrar que o CO2 tem a capacidade de reter calor na atmosfera o que o leva a contribuir com o aquecimento global. Esse gás é produzido tanto naturalmente, por meio de processos biológicos oceânicos, decomposição de matéria orgânica e incêndios florestais, quanto por atividades humanas, como a queima de combustíveis fósseis para energia e transporte.
O sequestro de carbono é o processo de captura de CO2 da atmosfera e seu armazenamento a longo prazo. Isso envolve métodos naturais, como a absorção do CO2 por florestas e outras vegetações durante a fotossíntese, bem como seu armazenamento em solos, áreas úmidas e oceanos. Também há métodos artificiais, como a captura de emissões de CO2 de indústrias ou diretamente do ar e seu armazenamento em formações geológicas subterrâneas. Essas práticas visam reduzir as concentrações de CO2 na atmosfera e mitigar os efeitos das mudanças climáticas.
A implementação eficaz de iniciativas de sequestro de carbono apresenta desafios significativos. Garantir a permanência e a integridade do armazenamento de carbono, abordar riscos potenciais de vazamentos, minimizar impactos ambientais adversos e garantir a eficácia de custos estão entre as principais considerações. Além disso, para que os esforços de sequestro de carbono tenham um impacto global significativo, é necessário apoio político, cooperação internacional e o desenvolvimento de estruturas regulatórias adequadas.
Este artigo inaugura uma série que irá tratar sobre a abordagem do sequestro carbono, suas potencialidades e desafios frente a questão climática. No próximo artigo, abordaremos o mercado de carbono.
Referências
Agreement, Paris. “Paris agreement.” Report of the Conference of the Parties to the United Nations Framework Convention on Climate Change (21st session, 2015: Paris). Retrieved December 2017. Vol. 4. No. 2015. Getzville, NY, USA: HeinOnline, 2015.
PRAJAPATI, Sunil Kumar et al. Carbon Sequestration: A Key Strategy for Climate Change Mitigation towards a Sustainable Future. 2023.
ROY, Poritosh; MOHANTY, Amar K.; MISRA, Manjusri. Prospects of carbon capture, utilization and storage for mitigating climate change. Environmental Science: Advances, v. 2, n. 3, p. 409-423, 2023.