O Brasil, com sua extensão continental, abrange uma ampla diversidade de condições ambientais, incluindo variações de precipitação, temperatura, características do solo, geomorfologia e altitude. Essas condições resultam em diversos tipos de vegetação. Uma maneira de classificar esses diferentes ecossistemas presentes no Brasil é organizando-os em biomas.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) define um bioma como “um conjunto de vida vegetal e animal, constituído pelo agrupamento de tipos de vegetação que são próximos e que podem ser identificados em nível regional, com condições de geologia e clima semelhantes e que, historicamente, sofreram os mesmos processos de formação da paisagem, resultando em uma diversidade de flora e fauna própria.” Assim, o Brasil apresenta os seguintes biomas: Amazônia, Mata Atlântica, Cerrado, Caatinga, Pampa e Pantanal.
A Amazônia e a Mata Atlântica são biomas florestais com notáveis diferenças de extensão, relevo e taxas de ocupação devido ao histórico do país. A floresta amazônica ocupa a porção norte do Brasil e é encontrada em outros países no noroeste da América do Sul. A Mata Atlântica se estende desde o nordeste brasileiro até a costa sul, passando pelas maiores cidades do país nas regiões Nordeste, Sudeste e Sul.
A porção central do Brasil é ocupada pela formação de savana conhecida como Cerrado, caracterizada por uma paisagem mais seca, dominada por árvores espaçadas e campos nativos. No Nordeste, encontra-se o único bioma exclusivamente brasileiro, a Caatinga, uma formação semiárida. A Caatinga apresenta uma marcante deciduidade (queda de folhas em parte da vegetação durante a maior parte do ano) devido à privação sazonal de água.
No Centro-Oeste e no Sul encontram-se, respectivamente, o Pantanal e o Pampa. O Pantanal é a maior área alagável do planeta e, durante boa parte do ano, atrai turismo ecológico. O Pampa é uma pastagem nativa subtropical. Ambos os biomas possuem um histórico de criação de gado e são os menores biomas brasileiros.
Potencial de estoque de carbono
Amazônia
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O bioma amazônico é o maior do Brasil, ocupando 49% do território nacional. Como floresta tropical, a Amazônia apresenta uma notável diversidade de espécies em todos os grupos de seres vivos. Em números absolutos, é também o maior em estoque de carbono orgânico do solo (COS) no país, com 19,8 gigatoneladas (Gt) de COS em 2021.
Estimativas indicam que o potencial de estoque médio de carbono por hectare do bioma é de 48 toneladas por hectare (t/ha), com uma média que sobe para aproximadamente 50 t/ha nas formações florestais.
Manter os estoques atuais de carbono e evitar a emissão de CO2 por meio do desmatamento e da queima de material orgânico é crucial para a mitigação do efeito estufa. Isso evidencia a grande contribuição do bioma amazônico no combate às mudanças climáticas.
Mata Atlântica
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A Mata Atlântica, outra floresta tropical presente no Brasil, é o bioma que mais sofreu com a degradação antrópica desde a chegada e colonização pelos portugueses em 1500. Até os dias de hoje, o bioma sofre com diversas mudanças nos usos do solo impostas com o progresso não planejado e predatório. Atualmente ocupa aproximadamente 13% do território brasileiro.
O bioma tem grandes taxas de ocupação urbana, com mais de 50% da população nacional residindo nele em 15 dos 27 estados da nação. Hoje, a maior porção de florestas é resultado da regeneração de áreas florestais, e apenas 27% do bioma é coberto por florestas.
Em 2021, o estoque de carbono no solo deste bioma somava 5,5 Gt COS. Do total, áreas naturais respondem por 2,1 Gt COS. A forte contribuição de áreas modificadas reflete o alto grau de desmatamento do bioma. Considerando as formações florestais no bioma, o estoque médio é de ~56 t/ha.
Cerrado
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O Cerrado, outro hotspot de diversidade (assim como a Mata Atlântica por ser um bioma com alto número de espécies exclusivas e alto grau de ameaça) passa pelos mais diversos impactos antrópicos como a transformação da área nativa em áreas de pastagens e monoculturas devido a expansão da fronteira agrícola. Ao longo dos 23% de extensão a cada ano uma porcentagem crescente de área nativa é perdida.
O carbono no bioma é acumulado tanto na superfície, devido à forte presença de gramíneas na maior parte do bioma quanto no subsolo devido às profundas raízes de suas árvores. A quantidade de estoque de COS foi de 8,1 Gt em 2021, a maior parte (4,3 Gt) em áreas naturais. O Cerrado típico apresenta o maior estoque médio de ~39 t/ha.
Caatinga
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A Caatinga ocupa cerca de 11% do território brasileiro e é caracterizada por baixa precipitação e altas temperaturas. Este bioma tem uma fauna e flora diversificadas e exclusivas.
Apesar de possuir o menor estoque de carbono orgânico do solo (COS) por hectare no Brasil (2,5 Gt de COS), estudos indicam que a Caatinga é o bioma brasileiro com maior eficiência no sequestro de carbono. Para cada 100 toneladas de CO2 absorvidas, entre 45% e 60% permanecem retidas e não retornam à atmosfera. Em comparação, na Amazônia, o saldo entre absorção e liberação de CO2 varia de 2% a 11%, enquanto no Cerrado essa eficiência é de 23%.
As formações savânicas e campestres da Caatinga apresentam o maior estoque médio de carbono, ~31 t/ha. Isso ocorre porque as florestas tropicais secas são depósitos naturais que absorvem e capturam CO2 da atmosfera, auxiliando na regulação do clima em diferentes escalas. Esse processo ocorre de maneira praticamente constante ao longo do ano devido às condições climáticas e trocas de carbono com o crescimento da vegetação em resposta às chuvas.
Pantanal
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O Pantanal, que cobre 2% do território brasileiro, apresentou armazenamento de 0,6 Gt COS em 2021. Um trabalho (Arruda, 2022) utilizando dados secundários, mostra que o bioma apresenta um potencial de estoque variável, dependendo da fisionomia vegetal e do tipo de solo e a maioria em áreas naturais. Os campos apresentam o maior estoque médio (~38 t/ha). Já as pastagens apresentam estoque de ~28 t/ha.
Pampa
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Outro bioma que cobre 2% do território brasileiro é o Pampa. O bioma apresentou armazenamento de 0,9 Gt COS em 2021. Os campos são a vegetação nativa predominante e mais ameaçada no Pampa. Os campos cobrem 32%, enquanto as florestas ocupam 12% do bioma. As pastagens nativas do Pampa têm grande potencial de estoque de carbono, com o estoque de carbono orgânico no solo de ~51 t/ha. O correto manejo do pastejo dos animais aumenta a produção de raízes e o estoque de carbono e nitrogênio orgânicos.
Os biomas brasileiros, cada um com suas peculiaridades, apresentam um alto potencial de sequestro de carbono orgânico no solo. A Caatinga, embora tenha o menor estoque absoluto, é a mais eficiente com um estoque médio de aproximadamente 31 t/ha. O Pampa possui o maior estoque médio por hectare, cerca de 51 t/ha, enquanto a Floresta Amazônica destaca-se com um estoque médio de aproximadamente 50 t/ha e o maior estoque total em números absolutos.
Panorama atual de desmatamento
De acordo com o último relatório do Mapbiomas, o Brasil perdeu cerca de 8,56 milhões de hectares de vegetação nativa nos últimos cinco anos. Em 2023, embora o desmatamento no Brasil tenha diminuído em 11,6%, totalizando 1,83 milhão de hectares, a situação varia entre os diferentes biomas.
Os destaques do relatório mostram que: Na Amazônia, o desmatamento caiu 62,2%, com 454,27 mil hectares desmatados. Em contraste, no Cerrado, o desmatamento aumentou 67,7%, especialmente na região do MATOPIBA, totalizando 1,11 milhão de hectares, ultrapassando a Amazônia pela primeira vez. O Pantanal também sofreu um aumento de 59,2%, com 49,67 mil hectares desmatados, enquanto a Caatinga registrou um aumento de 43,4%, com 201,68 mil hectares. A Mata Atlântica e o Pampa apresentaram reduções de 59,6% (12,09 mil hectares) e 50,4% (1,54 mil hectares), respectivamente.
Mapa de alertas de desmatamentos no Brasil em 2023. Fonte: RAD2023: Relatório Anual do Desmatamento no Brasil 2023 – São Paulo, Brasil – MapBiomas, 2024 – 154 páginas.
A principal causa do desmatamento no Brasil é a agropecuária, responsável por mais de 97% da perda de vegetação nativa nos últimos cinco anos. Outros fatores incluem garimpo, eventos climáticos extremos, expansão urbana e, na Caatinga, projetos de energia solar e eólica.
Perspectivas
Levando em consideração a abundância dos biomas brasileiros e seu papel de relevância global tanto no sequestro de carbono quanto nos serviços ecossistêmicos essenciais que esses biomas proporcionam, é imperativo que estejamos atentos às políticas de afrouxamento da legislação ambiental no Brasil. Tais medidas desconsideram o valor dos serviços ambientais, visando o lucro através da implementação de empreendimentos que impactam gravemente o meio ambiente e a sociedade.
Esses empreendimentos incluem a silvicultura, especialmente em larga escala, que possui um potencial poluidor significativo. A permissão para que monoculturas para celulose ocorram sem o devido licenciamento ambiental, como a lei recentemente aprovada pelo presidente por pressão da bancada ruralista, contrariando o Ministério Público Federal e organizações da sociedade civil, é um convite à degradação ambiental. O plantio de monoculturas acarreta impactos como a contaminação de corpos d’água pela utilização de agrotóxicos e fertilizantes, o comprometimento dos serviços ecossistêmicos e, consequentemente, na qualidade de vida das populações locais.
Insistir em empreendimentos que sabidamente degradam nossos ecossistemas é totalmente incoerente. Ao flexibilizar essas leis, estamos efetivamente assinando nosso próprio fim. Ainda há tempo para reverter essa situação, mas ele está se esgotando, e já estamos testemunhando as consequências da omissão em relação às políticas ambientais de mitigação e adaptação às mudanças climáticas.
Referências
Arruda. 2022. Dissertação.pdf (unemat.br)
MapBiomas. 2024. RAD 2023: Relatório Anual do Desmatamento no Brasil 2023